Imagine terminar uma obra grande e, ao precisar de uma pequena adaptação ou manutenção, perceber que nada na realidade corresponde às plantas antigas arquivadas. Fios que mudaram de rumo, colunas remanejadas, tubulações improvisadas. A cena é comum em muitos canteiros e escritórios, especialmente no mercado brasileiro, exigente e vivo como poucos. Por isso, o registro correto do que foi realmente executado, popularmente conhecido como as built, ganhou destaque absoluto em projetos e reformas civis.
Tudo que muda na obra pede ser registrado. O “depois” importa muito.
Este artigo, inspirado na missão da CANTEIROTECH de levar conhecimento atualizado e aplicado sobre engenharia civil a profissionais e interessados, mostra de forma prática como o levantamento as built funciona, por que é indispensável, detalha aspectos normativos, tecnológicos e suas aplicações em reformas e ampliações, sempre focando no cenário do Brasil.
O que significa as built na construção?
O termo “as built” se refere aos desenhos, plantas, modelos e outros registros que documentam fielmente como a obra foi realmente executada, após todas mudanças que acontecem inevitavelmente ao longo da construção. Ao contrário dos “projetos originais”, a documentação fornecida na fase inicial, o as built é a fotografia real do que ficou de pé no fim. Ele detalha a posição exata de paredes, vigas, instalações elétricas, hidráulicas e outros elementos fundamentais.
Esse tipo de levantamento é necessário porque, na prática, adaptações são comuns: alterações no local de pilares, ajustes de tubulações, passagens de cabos, ou remodelação de ambientes para se adequarem a obstáculos imprevistos. Se o as built não existir, qualquer intervenção futura vira um “achismo” perigoso.
Função do as built no ciclo da obra
No ciclo de vida da engenharia civil, o as built é praticamente o elo entre o planejamento e o real. Ele:
- Permite entender com precisão a configuração final do empreendimento
- Auxilia reformas, ampliações e manutenções de forma segura
- Garante a rastreabilidade dos ajustes feitos e suas motivações
- Atende exigências legais, licenciamento e liberações junto a órgãos públicos
No contexto de projetos inovadores mostrados pela CANTEIROTECH, o as built representa não só um requisito, mas uma forma de consolidar soluções diferentes e criativas, já que ideias costumam evoluir durante a execução.
Principais tipos de as built e suas particularidades
A elaboração do levantamento as built pode abranger diferentes disciplinas dentro do projeto. Os principais tipos incluem:
- Estrutural: Detalha a posição das fundações, pilares, vigas, lajes e elementos estruturais. Crucial para qualquer reforço, ampliação ou intervenção posterior.
- Elétrico: Registra o caminho dos cabos, quadros de distribuição, pontos de energia e sistemas de proteção já instalados. Evita surpresas em novas instalações e ampliações.
- Hidráulico: Mapeia a passagem de tubulações de água, esgoto, gás e pontos para manutenção. Relevante para evitar riscos de vazamento e, claro, prejuízos futuros.
Outros exemplos, como sistemas de incêndio, telecomunicações ou automação, também têm suas versões específicas de documentação de “como construído”, a depender do porte e finalidade do empreendimento.
Normas técnicas e obrigações legais
Para que o as built tenha valor técnico e legal, ele precisa atender normas reconhecidas, sendo a mais relevante no Brasil a NBR 14645, da ABNT. Ela define requisitos para a elaboração dos desenhos de obras, abrangendo desde a padronização da simbologia até os detalhes gráficos exigidos. O intuito é que qualquer equipe, mesmo sem contato prévio com a construção, consiga identificar e interpretar tudo que está no local.
Segundo a NBR, deve-se considerar:
- Desenhos claros e padronizados
- Registro detalhado de todos os desvios em relação ao projeto inicial
- Indicação das datas das modificações e de quem autorizou/executou
- Demarcação dos elementos principais com coordenadas reais e dimensões exatas
Na fase de aprovação e licenciamento, inclusive, órgãos públicos e prefeituras frequentemente exigem esta documentação para emissão de “habite-se”, alvarás ou regularização de imóveis. É algo que, no cenário brasileiro, se tornou um item quase obrigatório para construtoras sérias e incorporadoras.
Etapas práticas: como é feito um as built?
A preparação de um as built exige metodologia, atenção e, cada vez mais, apoio da tecnologia. O passo a passo, normalmente, segue esta ordem:
- Levantamento técnico Profissionais experientes percorrem toda a obra, anotando e comparando cada elemento com o projeto original. São verificadas medidas, alturas, locação de pontos elétricos e hidráulicos, entre outros detalhes.
- Revisão dos projetos existentes A equipe cruza todas as informações coletadas com as pranchas e documentos iniciais. Toda diferença registrada ganha destaque para ser corrigida na versão final.
- Representação gráfica Essa etapa combina desenhos técnicos detalhados, plantas, cortes e, cada vez mais, modelos 3D, especialmente se já existe integração com plataformas BIM.
- Uso de tecnologias de apoioBIM (Building Information Modeling): Modelos digitais interativos incorporam dados das alterações, criando um registro inteligente, muito além dos desenhos em papel. Confira este guia prático sobre BIM no nosso site.
- Laser scanning: Utiliza escaneamento a laser para criar nuvens de pontos do ambiente real, captando cada detalhe com alta precisão. Essa tecnologia agiliza a fase de coleta e aumenta a confiabilidade do resultado.
- Documentação final e arquivamento Com tudo atualizado, todo o material é entregue em formato digital e/ou físico, respeitando as exigências legais e as boas práticas da NBR 14645. O material passa a compor o acervo técnico, pronto para consultas e futuras intervenções.
Por que registrar tudo? Benefícios evidentes
Sejamos francos: poucos profissionais gostam do retrabalho que surge quando um prédio antigo precisa ser atualizado e falta a documentação real daquilo que foi feito anos antes. Ter o histórico desenhado nas mãos evita riscos de corte em tubulação ativa, reparos emergenciais e paralisação de atividades. O as built oferece vários benefícios práticos:
- Mais segurança para usuários e equipes técnicas
- Agilidade em reformas, ampliações e manutenções
- Redução considerável de custos futuros com retrabalhos
- Atendimento seguro às normas, inclusive NR-18; aliás, é interessante conhecer mais sobre a NR-18 e sua relação com a segurança em obras
- Facilidade em auditorias técnicas, regularizações e vendas do imóvel
- Permite avaliar o impacto de soluções sustentáveis e inovações realizadas durante a obra
Quem documenta evita surpresas. E ganha tempo. Sempre.
Aplicações práticas nas reformas e ampliações
Pense em um prédio com quinze anos de uso em São Paulo, onde se pretende criar um novo acesso para o subsolo. Sem o levantamento de “como foi executado”, só resta abrir paredes e lajes, torcendo para não romper um cabo ou encanamento vital. Agora imagine o mesmo cenário, com plantas detalhadamente ajustadas do as built: economiza-se tempo, dinheiro, e evita acidentes desagradáveis.
No setor residencial, como ao planejar cada etapa e custo de uma construção, o as built também garante retorno sobre o investimento, visto que valoriza o imóvel ao permitir futuras vendas, reformas prontas para acontecer e manutenção preventiva.
Já em empreendimentos corporativos e industriais, as exigências são ainda maiores, pois alterações estruturais ou em instalações devem ser licenciadas e seguras.
Tecnologia na documentação: BIM, automação e futuro
O uso de BIM trouxe uma mudança considerável na forma de criar e guardar registros finais. Já há edifícios que recebem modelos digitais “vivos”, com bancos de dados associados a cada componente físico: válvulas, sensores, circuitos, dutos. Isso permite que no futuro a manutenção preditiva seja regra, e não exceção. Inclusive, a transformação digital da engenharia civil passa impreterivelmente por documentações vivas e integradas.
Conclusão
O levantamento as built deixou de ser só uma formalidade para virar peça-chave nas rotinas de obras, reformas e manutenções no Brasil. Ele conecta planejamento e execução, guarda a memória técnica do edifício e salva orçamentos em futuras intervenções. Usar ferramentas como BIM e laser scanning apenas reforça a necessidade de precisão e atualização. Com base em exemplos reais e iniciativas mostradas no portal CANTEIROTECH, fica evidente que o mercado começa a valorizar cada vez mais esse tipo de documentação.
Sem o registro do que está de fato construído, qualquer projeto futuro segue no escuro, e isso, ninguém quer. Se a ideia é evitar surpresas, ter segurança e facilitar reformas, não deixe de conhecer mais sobre as iniciativas, soluções e conteúdos detalhados no universo da engenharia civil acessando a CANTEIROTECH. Sua obra agradece.
Perguntas frequentes sobre as built
O que é um projeto as built?
Projeto as built refere-se ao conjunto de documentos técnicos que retratam, com exatidão, tudo o que foi executado em uma construção após sua conclusão, considerando todas as mudanças em relação ao plano original. Ele mostra como cada elemento foi realmente construído, paredes, instalações, estruturas, diferenciando-se da proposta inicial feita no início do projeto.
Como fazer um as built na construção?
O processo começa com o levantamento técnico, onde profissionais experientes percorrem toda a obra anotando diferenças em relação aos desenhos originais. Medidas são conferidas, alterações registradas, instalações conferidas. Em seguida, as plantas, cortes e detalhes são atualizados segundo as normas, como a NBR 14645. Ferramentas modernas, como escaneamento a laser e BIM, podem tornar a etapa mais ágil e precisa. O resultado final são desenhos e relatórios detalhados sobre o que foi efetivamente executado.
Para que serve o as built em reformas?
O as built orienta reformas mostrando a localização real de paredes, instalações elétricas, encanamentos e estruturas. Assim, evita-se romper acidentalmente tubulações ou sistemas elétricos, previne acidentes e permite projetar ampliações com base em informações reais. Também é utilizado em processos de regularização, licenciamento e manutenções futuras.
Quanto custa um levantamento as built?
O valor do levantamento as built depende do tamanho e complexidade da obra, bem como do grau de detalhamento exigido e das tecnologias empregadas, como BIM ou laser scanner. Para pequenas edificações residenciais, os custos são mais modestos e, em grandes empreendimentos, o investimento cresce, mas compensa ao evitar retrabalhos ou acidentes. Consultar especialistas locais é fundamental para ter um orçamento adequado à realidade do projeto.
Qual a diferença entre as built e projeto original?
O projeto original é elaborado na fase de concepção do empreendimento e serve como guia para a execução. Já o as built registra todas as alterações que ocorrem naturalmente durante a construção, sendo a representação fiel do que ficou (e está) de pé ao término da obra. Assim, garante que o que está no papel corresponda ao que foi erguido no local.





